sábado, 23 de julho de 2011

Esplanada

"Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos verbos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,


agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.


O café agora é um banco, tu professora do liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes."

Manuel António Pina
colhido em poedia

3 comentários:

Ninguém.pt disse...


A hora do cansaço


As coisas que amamos,

as pessoas que amamos

são eternas até certo ponto.

Duram o infinito variável
no limite de nosso poder

de respirar a eternidade.



Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,

numa outra (maior) realidade. 



Começam a esmaecer quando nos cansamos,

e todos nós cansamos, por um outro itinerário,

de aspirar a resina do eterno.

Já não pretendemos que sejam imperecíveis.

Restituímos cada ser e coisa à condição precária,

rebaixamos o amor ao estado de utilidade.



Do sonho de eterno fica esse gosto ocre

na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.


Mário Quintana

Beijito, Miss.

josé luís disse...

;)

Escrivaninha disse...

"rebaixamos o amor ao estado de utilidade"...
"as tuas pernas são coisas úties, andantes"...
Um antagonismo entre o útil e o eterno?

Beijitos