De vez em quando volto a constatar, com tristeza, que não passa teatro na televisão.
Recordo muitas peças de teatro que via na televisão quando era pequena, logo a seguir ao 25 de Abril. Algumas eram duras e muito pesadas, outras tinham referências muito explícitas a questões sexuais, (que eu percebia mais pela perturbação e indignação da minha avó do que pelo teor das cenas, verdadeiramente) e havia teatro para crianças...
Não sei que idade teria quando vi "A Morte do Caixeiro Viajante", interpretada pelo António Montês, mas sei que me marcou muito, pois fixei o nome do actor e tenho por ele muito carinho. Vi "A Mãe Coragem" e outros. Também havia teatro cómico, como a famosa "Maluquinha de Arroios" ou "A Vizinha do Lado", que vi várias vezes, com muito agrado.
E o teatro da televisão motivava para ir ao teatro a sério (a emoção que senti quando vi, ao vivo, no Teatro Nacional, a Eunice Munoz/Mãe Coragem e a Irene Cruz/Filha!).
Lembro-me também de ter visto no canal 2 uma excelente série documental sobre a História do Teatro - mas essa era estrangeira.
E lia-se teatro!
Comprei livros de teatro para ler. Lia-os alto, treinando, pois na altura sonhava ser actriz.
E fui-me lembrar disto tudo, agora, porquê? Porque há poucos dias um amigo que gosta de teatro e desenvolve projectos de teatro numa escola fez anos. E eu aproveitei a ocasião para lhe comprar um livro sobre teatro e, pensava eu, actualizar o meu repertório sobre leituras de teatro, que penso voltar a empreender um dia. Qual não é o meu espanto quando na Bertrand - a original, a velhinha do Chiado, onde sempre me sinto em casa - a escolha não era muita; e era sobretudo de teatro estrangeiro, particularmente brasileiro. Fiquei um pouco apreensiva, mas não tive muito tempo para pensar sobre o assunto.
Ontem aninhei-me a ler uma entrevista de Fernando Dacosta no jornal da Sociedade Portuguesa de Autores. Eu adoro o Fernando Dacosta e ele é, precisamente, um dos autores que eu li também em teatro. E leio isto: "(...) tinha uma peça d teatro que escrevi, mas meti-a na gaveta e nem sequer a publico. Porque não há teatro português. Todos os responsáveis por grupos de teatro, ainda por cima a receberem subsídios, olham-no com sobranceria e com desdém."
Pois é, temos o palco às escuras. Porquê?
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