terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Penumbra

Apostada em voltar a escrever por aqui com regularidade criei a nova etiqueta "Palavra do Dia" para que, quando não houver um assunto, um texto, haja um pretexto de colocar aqui uma palavra que me intrigue, me agrade, me atinja de alguma maneira. Aproveito também para esclarecer significados de palavras, servindo-me sobretudo do Priberam como ferramenta online.
Cada vez mais vou acreditando que nada é por acaso e procurando os desacasos em cada coisa.
A palavra que queria colocar aqui hoje era penumbra, depois de ontem ter pensado em lusco-fusco. Cria eu que eram sinónimos. E queria escrever aqui que me agrada muito esse período do dia, em que ainda não é bem noite nem dia. Gosto do período da manhã e da tarde...sobretudo agora, que a Primavera vai dando sinais, que já é possível "deitar o nariz de fora" nessas horas e ouvir a passarada num hino a qualquer coisa de magnífico que eles sabem ver todos os dias.
Gosto mais do entardecer, daí a a primeira opção por lusco-fusco. Mas tento habituar-me agora ao amanhecer. Tento levantar-me cedo e gosto de levantar os estores e fazer as coisas com a pouca luz que deixa entrever as sombras dos objectos conhecidos...O dia vai assim chegando naturalmente, a luz vai surgindo por si própria, sem o forçar do interruptor.
À tarde gosto muito de viver o crepúsculo (que aparece como sinónimo de lusco-fusco, mas não de penumbra), de ficar no exterior ou interior da casa sem fazer nada que exija muita luz e observar os objectos a tornarem-se de novo em sombras, em volumes, em sugestões de espaços ocupados. E os pássaros lá fora chilreiam com força e ânimo, exortando a um recolher, não obrigatório mas conveniente, natural.
Estas convivências com os ritmos da luz do dia ajudam-me a estar mais perto da Natureza, assim mesmo com a letra grande que o Acordo lhe nega.
Depois, a palavra lusco-fusco não me pareceu séria, parece uma brincadeira, uma caricatura de qualquer coisa, não espelha a seriedade e a profundidade do crepúsculo, da aurora...Encontrei penumbra. Sim, penumbra parece-me bem, embora tenha uma sonoridade triste, grave, inusitadamente agourenta.
E hoje lá me sentei aqui para escrever sobre a Penumbra (o som lembra tanto Penúria que chega a arrepiar). Agora já não estou tão certa de que seja esta a palavra certa...
Mas ao ir ver o seu significado ao Priberam sorri da coincidência que também me aproxima da Penumbra e que me faz talvez valorizar ainda mais a Penumbra nesta ano especial e ainda mais hoje mesmo que faz 9 anos que obtive o título doutoral na Universidade, título esse que sonhava em multiplicar em acções no meu local de trabalho e que num misto de estupefacção e mágoa vejo ser negado sistematicamente sem qualquer justificação cabal.
Penumbra quer então dizer, entre outros significados: "Ponto de transição da luz para a sombra"; "Luz pouco intensa, própria de fases do dia como o amanhecer ou o entardecer ou de ambientes pouco iluminados"; "Ausência de reconhecimento, de celebridade (ex: viveu os últimos anos afastada do público, na penumbra)";  Igual a Anonimato, Obscuridade.  
Talvez nada seja por acaso, talvez tudo tenha um sentido para ser encontrado, associado, emparelhado. Neste dia 11 de tão boa memória!

2 comentários:

josé luís disse...

eu gosto da penumbra. o étimo é latino e significa "quase"+"escuridão", ou seja há ainda a luz suficiente para perceber a escuridão que se avizinha ;)

Escrivaninha disse...

Seja muito bem aparecido, meu amigo! (Partículas de Felicidade)