segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Eu juro...ou não

E nós a acharmos que temos a certeza daquilo que nos recordamos e eu agora a ler que muitos de nós temos memórias falsas.

"(...) estudos mostram que, às vezes, todos nós temos memórias completamente erradas até dos eventos que parecem mais nítidos na nossa memória.
(...)
Outro exemplo extraordinário de memórias imaginárias ocorreu numa experiência numa universidade não identificada no Canadá, onde sessenta estudantes voluntários foram confrontados com a acusação de que, na adolescência, tinham cometido um crime relacionado com roubo ou agressão, pelo qual tinham sido presos. Nada disto acontecera realmente, mas, após três sessões com um entrevistador amável mas manipulador, 70% dos voluntários confessaram ter cometido esses incidentes imaginários, acrescentando muitas vezes vividos pormenores incriminatórios - totalmente imaginários, mas nos quais acreditavam sinceramente.
(...)
A conclusão é que a memória não é um registo fixo e permanente, como um documento num armário de arquivo. É algo muito mais vago e mutável. Como Elisabeth Loftus disse a um entrevistador em 2013: é mais como uma página da Wikipédia. Podemos ir lá alterá-la e as outras pessoas também."

Bryson, Bill, O Corpo: Um Guia Para Ocupantes, Lisboa, Bertrand Editora, 2019, pp. 79-80

E agora? Que fazemos com as nossas memórias? Confiamos ou não nelas?
Hoje sabe-se tudo isto, mas...quantos crimes não terão sido cometidos por sentenças judiciais apoiadas em testemunhos...que são memórias?
E as pessoas que mentem? Acreditarão naquilo que dizem ter acontecido? Não serão mentirosas afinal?

E o mundo que vivia cheio de certezas e troçava dos filósofos!

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