quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A Puta da Culpa

A Culpa. A puta da culpa!
Quem nos enfiou isto na cabeça: que temos de sentir culpa por estarmos bem porque há muitos outros que estão mal?
No meu caso desconfio que foi a minha mãe. Também alguém lhe deve ter enfiado isso na cabeça.
Com um bocado de sorte (estou a ser irónica) é uma daquelas memórias genéticas e deve vir lá desde os anos da crucificação: uns culpados porque negaram a autenticidade, outros porque lavaram as mãos, outros autorizaram, outros executaram, outros assistiram e alguns aplaudiram. Feitas bem as contas, daquela tropa da altura ninguém estava inocente (de qualquer coisinha haviam de ser culpados), há a necessidade de expiar a culpa; passados uns anos isto instalou-se nos genes e nos dias de hoje é ela que nos espia em todas as situações do dia a dia.
Vem isto tudo a propósito da culpa que sinto, hoje, um dia lindo de sol, cada vez que saio com a minha leveza de quem não está a trabalhar e passo pelos pedreiros que estão a fazer obras no prédio. Conheço-os bem. Cumprimento-os, não os ignoro de maneira alguma. Mas começou a subir por mim acima uma culpa tremenda.
Então agora vou sair outra vez? E passar alegremente pelas pessoas que estão a trabalhar? O que é que eles vão pensar? Será que eu tenho o direito de passear de forma tão leve quando eles estão a suar, com dores nos rins e nos joelhos?
E pronto, é isto. Compreendi que neste ano maravilhosos e leve passo o tempo a entrar e sair de casa e que hoje vou ficar por aqui mais tempo para não afrontar, incomodar, provocar, assediar...quem trabalha.
É estúpido, eu sei.
Mas é uma coisa muito minha. Quando vejo uma pessoa a andar com dificuldade abrando o passo (habitualmente ligeiro) para não afrontar a pobre pessoa que já não pode andar como quer e como já andou em tempos.
E aposto que é esta culpa de hoje que me está a dar umas dores muito chatas num dos "nós dos dedos", para me lembrar que nunca estamos verdadeiramente bem, que temos de ser humildes, compreensivos...
Que esta conversa não faz sentido...é verdade. Mas ela anda na minha cabeça.

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