domingo, 15 de fevereiro de 2015

Agora mesmo

uma voz vinda de muito longe no tempo me fez recordar o meu crescimento, a minha chegada à profissão e, anos depois, um casamento.
Quando se está durante anos sem falar com alguém as novidades são muitas. Muitas delas pouco boas: doenças, mortes, abortos, por fim nascimentos e depressões e perdas de empregos e mudanças de casa e o envelhecimento daqueles que nos uniram, que eram as fortalezas das nossas vidas e agora inspiram cuidados...
A inversão dos papéis que muito dói.
O desaparecimento daqueles que constituíam o nosso mundo quando nascemos e o enfraquecimento dos que nos deram forças para crescer, dos que nos indicaram os caminhos.
O ficarmos definitivamente órfãos, o termos de assumir, por fim, as grandes responsabilidades da vida e, lá no fundo do nosso ser, vai crescendo a certeza que a decadência se aproxima, que também nós um dia vamos deixar órfãos os que sempre nos conheceram...pior...que vamos perder as nossas capacidades e inspirar-lhes cuidados, obedecer às suas ordens, sermos cuidados por eles...
A inversão dos papéis!
Até há pouco tempo eu achava que o movimento entre os que se vão e os que chegam compensava tudo isto, mas, talvez também porque me aproximo do fim (como toda a gente) parece-me agora que não há compensação, que as vidas ficam num desamparo só.
Um desamparo final!

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