quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Silêncio da Palavra

A palavra anoitece
...veste a escuridão
segreda-me os intuitos
com um hálito de cacimba.
Rotas e rotas
desenhadas no tempo
contam-nos histórias
momentos,
de intensos saberes…

A palavra é o silêncio.
Um chilrear,
acorda-nos devagar…

A luz brilha
no horizonte
vestindo a palavra
de um nenúfar
apoteótico
coberto de ilusão.

A palavra arrefece
na mudança de mão
de voz
esquece-se
e na solidão
fica quieta
presa
na escuridão…

A palavra é o silêncio
a pedra,
a história
ou o tempo que morreu…

despida,
perdida,

cala-se então!

Paulo Afonso Ramos, 2011

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


POEMA DO SILÊNCIO


Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
— Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.


José Régio

Beijito, Miss silenciosa.

Escrivaninha disse...

Acho tão curioso alguém dirigir-se a um Deus em que não acredita. Será que não acredita mesmo?
Para mim é muito difícil conceber que não se acredite de facto. Embora considere que muitos de nós acreditamos para podermos deixar a culpa e a responsabilidade num outro que não nós e para procurar uma lógica para suportar isto.
Durante muito tempo acreditei que acreditar em Deus era irracional, agora acho que é um ato consciente e racional. E necessário. Para mim.
Respeito que outros não acreditem, mas fico sempre desconfiada quando vejo estes recursos literários, que eu acho que são muito mais do que isso.

Mas, considerações à parte, adorei o poema, Mestre.
Beijito.