domingo, 4 de agosto de 2013

Justificações

"- Marcello.
- Sim?
- Aquele cipreste...
- Sim, o cipreste...o que é que tem?
- Está ali e...
- E?...
- Não percebo.
- O que é que não percebes, Gonçalo?
- Como é que está ali?
- Foi plantado.
- Sim, está bem, Marcello, eu sei que foi plantado, todos os ciprestes que vimos hoje foram plantados, mas porquê ali, naquele ponto da colina? Porquê só um? Aqui na encosta puseram um; lá atrás estavam cinco, em círculo, no cume; e, antes da curva, os ciprestes acompanhavam a estrada de terra batida como se fossem uma guarda de honra, um desfile. Porque é que foram plantados assim?
- Porque é mais bonito. A paisagem fica mais bonita.
- Marcello, estes ciprestes têm séculos, ainda não havia turismo, ninguém vinha passear para aqui e tirar fotografias e comprar produtos regionais, ninguém vivia da beleza da paisagem. As pessoas tinham era fome...
- Plantaram-nos depois de comer..."

Cadilhe, Gonçalo, Mistério Etrusco in Um Lugar Dentro de Nós, Lisboa, Clube do Autor S.A., 2012, pp. 67-68

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


A UM NEGRILHO


Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!


Miguel Torga


Quando olho para o que os antigos nos deixaram, não acredito em acasos — sei que eles eram muito mais sábios do que nós admitimos.

Aliás, penso mesmo que um dos maiores erros dos humanos é menosprezar o saber das gerações anteriores. É por isso que, embasbacados, olhamos como burro para palácio quando vemos com olhos de ver o que nos deixaram: "Como teriam eles feito isto, sem…". E depois enunciamos aquilo que achamos que eles não tinham, esquecendo o mais importante, o que eles tinham e nós desprezamos: saber.

Beijito, Miss.
Bom mês a gosto (como deviam ser todos, n'é?)

Escrivaninha disse...

E usando o mote lá consegui escrever mais um post.

Atrasado no tempo, mas com muito boa vontade.

Um grande Agosto, com muito gosto para si, Mestre.

Beijito.