segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Entre Palavras

Livre das palavras que pouco me interessam - formulários, relatórios, relambórios burocráticos de final de ano letivo - mergulho agora no mundo das palavras que me apaixonam: A Investigação!

O abuso burocrático da escola só me deixa Agosto para me dedicar a tempo inteiro a investigações a gosto.

Não canso de me fascinar com as possibilidades que a informática nos trouxe!

Guardo, no coração e num armário, o grande ficheiro com fichas de cartão de vários tamanhos compradas criteriosamente na Papelaria Fernandes. Serviu de base ao meu trabalho de mestrado. Depois foram vertidas em palavras escritas que já surgiam num écran.

O Mestrado foi a época da transição. A pesquisa foi ainda feita à moda antiga. A redação e orientação foi feita à moda moderna, arrumando palavras num écran que as levava para o outro lado do Atlântico e as devolvia com observações escritas numa secretária da Universidade de São Paulo.

Hoje já envio naturalmente um mail para o outro lado do Atlântico e saboreio a rápida resposta. Entro na Biblioteca Nacional pelo écran e vejo que tenho ainda de organizar um ou dois dias para ver alguns títulos que parecem ter interesse. Já fiz até downloads de livros! Não gosto de ler "na telinha", confesso, mas se não houver outra forma de ter acesso ao livro ou artigo... E levar um monte de folhas arrumadas num écran! Atravessar o Atlântico muito menos carregada do que nas primeiras viagens, mas levando a mesma quantidade de informação!

Vejo as fotos e os documentos antigos digitalizados. Ponho os dedos no écran e afasto-os até ter o documento num tamanho razoável para ler a caligrafia cuidada de alguém que não assinou o seu nome numa escrita de rotina que não pensou nunca que viria a ser alvo de estudo...Depois penso que um dia os relatórios e relambórios que fiz a contra-gosto serão a matéria de investigação de outro alguém. Eu faço-os sempre cuidados como se tal fosse acontecer. Correspondem a rotinas importantes para avaliar o estado do ensino na atualidade...que um dia será o passado, objeto de estudos históricos e sociológicos.

Talvez não descanse no sentido tradicional das férias. Mas, por agora, tento transmitir pelas minhas palavras o que vou descobrindo nas palavras de outros. Guardadas por outros ainda.

No outro canto da mesa está um romance de Sidney Sheldon sobre um rapaz pesquisador de diamantes. E eu sinto-me assim, também: a pesquisar diamantes, que são as palavras de outros que hoje motivam as minhas. Banho-me nelas, que a época é balnear. Conseguirei transmitir bem o que outros sentiram e passaram? Conseguirei interpretar as ausências de referências nos documentos que têm um ritmo quase tão esclarecedor como o das revelações?

Dizia um conferencista que ouvi a semana passada: «a História é feita de sombras». E eu acrescento de silêncios.

O que calamos da(s) nossa(s) história(s)? Conseguirá o investigador captar a razão de ser desses silêncios?

Talvez não, mas esse é uma das grandes interrogações que me move, e me fascina. Neste Agosto de palavras tantas!


2 comentários:

Ninguém.pt disse...


A PALAVRA MÁGICA


Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.


Carlos Drummond de Andrade

Beijito, Miss.

Escrivaninha disse...

Palavras leva-as o vento, mas não hoje que está um calor imóvel.

Beijito, Mestre.