quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

As Mães

 A minha relação com a minha mãe foi muito conturbada, conflituosa, dolorosa. 

Talvez seja isso que tenha determinado que eu nunca tenha tido grande vontade de ser mãe. O tal desejo que dizem que todas as mulheres têm...eu não tive. Pensei ainda (fugazmente) em ser mãe por conta de uma relação amorosa que me parecia que ia dar certo. E aí, sim, talvez eu gostasse de "lhe dar" um filho ou dois, de construir um lar. Não cheguei a saber se essa vontade se teria transformado numa determinação sólida, porque sólida não foi a relação e o projeto ficou pelo caminho, sem ter de ser pensado a valer.

Assim, não fui mãe.

Quando chegou aquela altura do tic-tac biológico (tão bem abordado na comédia de Bridget Jones) ainda encarei a possibilidade de uma adopção...para logo me quedar pela vontade de não enfrentar o calvário burocrático-legal e - sejamos honestos - a trabalheira de criar uma criança.

Assim, não fui mãe.

Agora, com a idade de avó, dou comigo frequentemente a pensar que as mães são seres extraordinários. Que encontram em si recursos insuspeitados, que fazem das fraquezas forças e que povoam gigantescamente (para o melhor e para o pior) a vida dos seus rebentos. Até depois de terem partido.

E vêm estas reflexões a propósito de quê? De facto tenho pensado muito nisto, mas algo fez, hoje, despoletar a vontade de molhar o aparo no tinteiro (Que parvoíce: nunca tive caneta de aparo, mas achei que a expressão ficava aqui tão bem!) e isso foi um breve encontro que tive hoje no café.

Quando já estava para abandonar o espaço do café vi uma colega que já foi outrora minha chefe e isso deteriorou as relações entre nós. (Dizem as más-línguas que eu sou difícil de chefiar, mas eu não concordo com isso, embora a temática seja longa e por isso merecedora de publicação própria). Em resposta ao meu aceno respondeu com um gesto vago, cansado, pouco comprometido. Disse-lhe "Bom Ano", respondeu "Obrigada". Tudo assim sem grande expressão ou implicação.

Mesmo ao cruzar a porta reparo no jovem que se estava a sentar junto dela. Era o filho. Tinha sido meu aluno ainda antes de eu a conhecer como colega. Fiquei ali à espera que ele desse por mim. A mãe fez-lhe sinal e - parecia um milagre! - o rosto dela estava todo iluminado, ela tinha rejuvenescido 10 anos e qualquer antipatia para comigo tinha desaparecido. Ela estava encantada de eu ter reconhecido o filho e querer cumprimentá-lo. Trocámos sorrisos e desejos de boas festas e eu saí do café convencida que a relação entre uma mãe e um filho ou filha é uma coisa com um potencial tremendo: a transformação daquela mãe era disso prova!

Talvez eu tenha perdido a oportunidade de ter uma relação única, para lá do que é imaginável. Porque até a minha mãe, disseram-me, quando falava de mim se animava, se orgulhava, coisa que não me expressava diretamente.

Ser mãe deve ser uma coisa extraordinária!


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