Os miúdos já chegaram!
Depois daqueles tempos horríveis, desesperantes, assustadores, em que procuramos enquadrar tudo em quadradinhos e matamos a espontaneidade pelo tédio da previsibilidade infinita, os garotos entraram na escola.
Quarta-feira a vida voltou ao espaço lavado de água, mas bafiento de ideias que é uma escola em período não lectivo.
(O que francamente me custa é como quase toda aquela gente parece acreditar na doutrina da Santa Grelha! Como se antes de haver grelhas o ensino não fosse válido. Como se tivéssemos que provar à exaustão cada atitude que tomamos...como se em tribunal estivéssemos a justificar actos).
Os que já eram meus alunos saudaram-me com alegria e os novos mantiveram uma expressão acesa de expectativa durante toda a apresentação.
Devolveram-me a esperança. Mostraram-me que afinal há um caminho.
Hoje arrumei as grelhas todas numa pasta pronta a disparar em situação de emergência e dediquei-me a ler um livro, algo de novo para ensinar que a História é um caminho constante.
Portugal; o Pioneiro da Globalização - A Herança das Descobertas, um respeitável livro de muitas páginas, escrito or Jorge Nascimento Rodrigues e Tessaleno Devezas, editado pelo Centro Atlântico, que me foi oferecido por um estrangeiro a quem, de visita a Portugal, tentei explicar o carácter excepcional dos nossos descobrimentos, que sempre considerei «a abertura ao mundo percursora da globalização» e que agora assim era reconhecida pelos estudiosos.
Confesso que tenho um bocadinho de inveja do título: gostava de ter sido eu a escrever aquilo!
Afinal é uma perspectiva muito económica - que eu não escreveria - mas parece-me um bom estudo.
No entanto trago-o aqui para registar palavras de esperança, de gratidão, que me provam que a docência é uma coisa pessoal incapaz de ficar presa em grelhas estanques de resultados matemáticos: a docência é sobretudo um trabalho humanista, de relações e interacções entre seres humanos, de um valor incomensurável e, por isso, impossível de registar em grelha quadriculada, asséptica, acabada no curto espaço de um período lectivo. Os efeitos do ensino, os resultados da docência, são tão difusos e tão vastos que se tornam incomensuráveis, mas que se reflectem na sociedade frequentemente sem que disso se tenha consciência.
Um dos autores do livro regista um tributo a alguém que, sem talvez ter disso a «prova», é responsável pelo seu percurso, pela sua contribuição para a cultura portuguesa, num estudo que mereceu o apoio de diversas entidades de gabarito internacional. E escreve assim:
"O autor Jorge Nascimento Rodrigues expressa, também, a título pessoal, a sua enorme dívida para com José Gonçalves, já falecido, um Professor de História de excepção, que, no princípio dos anos 1960, no Liceu de Leiria, motivou centenas de alunos para a paixão por esta disciplina essencial (...)" (p.12)
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