segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

As Palavras e o Metro

Estou na Capital por dever de ofício.
E acho tudo muito estranho!
Talvez porque seja mesmo estranho ou talvez porque estranho estranhar, uma vez que aqui fui criada e foi já mulher que me acomodei num cantinho de Portugal, a que gosto de chamar meu.
Aí, no remanso de dias mais vagarosos, acho graça à única "hora de ponta" do dia. E mesmo essa, costumo contempla-la da grande janela do meu café preferido, para depois, já de noite, descer a rua vagarosamente até ao meu ninho.
Mas não foi para descrever o sossego de que sinto a falta que aqui me sentei. Pelo contrário: foi para registar o aumento da circulação de palavras no metropolitano de Lisboa!
Que há muitos "outdors" já sabíamos, que há uma televisão com notícias específicas no Metro já foi estranheza ultrapassada, mas, aquilo que senti hoje ainda não me tinha apercebido.
Munida de uma revista para passar o tempo da viagem - como fazia antigamente, evitando olhar os rostos entorpecidos e desgastados que me acompanhavam nas viagens - fui alertada/incomodada pelo chinfrim que reinava na carruagem. Não me apercebi logo do fenómeno. Fiquei a olhar as pessoas, que conversavam, riam ou mexiam freneticamente os dedos. Fixei-os melhor. Cada um falava...sozinho...ou melhor, com o seu aparelho. Apurei o ouvido:
"- Então? Pois só agora te pude ligar..."
"- Podias ir buscar os miúdos? É que eu assim ainda passava no supermercado..."
"- Não. E o gajo queria dar-me uma má nota. Tive de repetir..."
"- Estou muito cansado. Foi um dia horrível. Talvez amanhã..."
Outros teclavam freneticamente e sorriam para os aparelhos.
Atónita, compreendi porque perdera o sossego para ler.
Atentei então em alguns que liam, imunes àquele bruáa ensurdecedor. Depois reparei que lhes pendiam das orelhas uns fios pretos ou brancos que lhes asseguravam a imunidade e a calma.
Fiquei a reflectir sobre tudo isto: ganhou-se em expressões faciais e animação (as pessoas eram tão feias e desgastadas ao fim do dia no metro...); ganhou-se certamente em circulação de palavras, mas para mim perdeu-se um tempo de sossego, de reflexão, de leitura. E não deixa de ser estranho ver toda a gente à nossa volta a conversar, sem interagirem uns com os outros.
Talvez compre uns "phones"...talvez comece a ouvir as conversas dos outros...talvez seja melhor não, pois vem-me muito à memória "uma frase batida": Quem muito fala pouco acerta! E eles agora falam muito!...

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