O quarto estava escuro. Aquelas portadas de madeira vedavam realmente a luz da manhã, ou talvez ainda não houvesse luz lá fora. Por vezes o rádio acordava antes do dia.
Era o início da TSF, pelo menos creio que era o início. Era o tempo em que eu acordava com as notícias, uma jovem conscientemente informada, que eu era.
A notícia apanhou-me de surpresa. Não queria acreditar que ele tinha realmente morrido. Não era só ele que desaparecia: era todo um símbolo da Liberdade que eu gozava a grandes goladas, entre a Faculdade de Letras e o Município de Abril. E eu, que também irrompera no mundo, um dia em Abril, sentia-me uma personagem da História. Da História!
Hoje, evito criteriosamente os noticiáros, porque os considero uma caricatura de mau-gosto do Jornalismo e porque diariamente me agridem os sons e imagens de uma crise sem esperança, da perda de direitos adquiridos, num país que não quero, mas que vou vendo abatido pelos ditames de um capitalismo em agonia. Foi outra vez o rádio que me deu a notícia...
Chorei muito nessa manhã, no quarto obscurecido, numa manhã que já não podia ser clara, num ano em que o Abril ia ser mais pobre.
Espantei-me muito hoje, por constatar que já tinham passado 25 anos.
Só 25 anos? Já 25 anos?
25 anos se passaram, com os 'sós' e os 'jás' que cada um vai sentindo.
Na minha escola está um retrato do Zeca traçado pelo rápido executar de uma professora de Educação Visual. Que melhor local para estar um retrato do Zeca do que numa escola? Ele, que foi professor, que foi proibido de ser professor, porque queria ensinar Abril todos os meses.
De facto passaram 25 anos. E notam-se nas rugas deste país, triste e seco, por ausência de chuva e de esperança, neste mês tão longe desse Abril, aquele que, reza a voz do povo, será sempre das águas mil.
Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Reuniões Intercalares
Os adultos somos nós!
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Palavras vãs
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Vontade de Partir...essa questão eterna de partir e de voltar!
Longe Daqui
"Nascemos no alto mar no meio da tempestade
ali a meio caminho
´tre o cabo das Tormentas
e o céu do Paraíso
a alma mareante
o fogo de San Telmo
o luto o desespero
pel´alegria breve
de navegar um instante
um século, uma História
enquanto fabricámos
no ventre do porão
paixão
depois, cuidadosamente
encheram-te a cabeça
de histórias de aventura
de batalhas de Ourique
Reis mouros esmagados
de heroísmos vários
de feitos de bravura
de mundos viajados
poemas inflamados
a Grei, Prestes João
o mapa cor de rosa
a virgem aparecida
el-rei D. Sebastião
um Império Mundial
caramba!
às vezes perguntámos
parando por momentos
num vendaval de Santos conquistas embaixadas
com coches de ouro ao Papa
marfim e arrecadas
e a gente sempre a olhar
a olhar
sentíamos mar nas veias
e febres de partir
encantos de Medeias
tentações de fugir
mas ficámos amarrados
ao Convento de Mafra
chorando o desencanto
de ficar que o forte forte vento
não nos deixava enfim
nem estradas de sair
nem estradas de chegar
nem traços de partir
nem posses de alcançar
p´ra dentro do Futuro
adiante
e tinhas razão que o certo certo mesmo
podia ser aquilo, podia ser o vento
podia ser a História, qua há tantas tantas formas
de a gente dar memória
e às vezes o silêncio ´té dizem que é dourado
mas um Homem fica parvo
com a força do Futuro contida no Passado
e devotadamente, Aljubarrotamente
crê!
e conformado crendo
que as nossas aventuras
só foram pela canela pimenta e especiarias
e só fomos heróis em terras e lonjuras
por querermos espalhar a Fé e as teorias
que nunca violámos
que nunca escravizámos
nem traço de chicote nem outras judiarias
nem alma de ladrão morrida nas galés
e ao mar!
de 30 em 30 anos
às vezes mais - 50!
até acreditamos
rumamos à tormenta
batemo-nos e vamos
p´rá liça do Futuro
com a nossa força grande
antiga
mas contados p´los dedos
assuntos bem saldados
ficaram intenções
castelos abandonados
crianças sem saber
o sol pr´os reformados
remessas de emigrantes
e o mar que eles voltam voltam sempre
cinzentos sorridentes
cheirosos influentes
de todos os quadrantes
e por todas as frentes
com cupidez te amansam
com polimento avançam
e zás...
Nas grutas de uma vida
um homem muda tanto
e de criança a velho
e de truão a santo
o salto é tão pequeno
o trilho é tão estreito
tantos pavores na fronte
tantos calores no peito
tanto ouro na corrida
e a força da razão e a força da subida
mãos quentes de bater
mãos magras de sangrarem
e quanto mais procuras ou mais te procurarem
- caíste!...
tentas saber como é
e tentas aprender
aprendes a sorrir
aprendes a esconder
aprendes a vender
aprendes a comprar
aprendes ´té a amar
assim assim, se tanto,
desconfiadamente
a engolir o pranto
a não te olhares de frente
enquanto sonhas longe
ai tão longe daqui e tão
diferente
e embarcas pelo deserto
resolves-te a partir
juntando três amigos
sem jeito ao despedir
duas frases erradas
- Não era nada disto
que eu vos queria dizer
e vais e é natural que sintas
vontade de o fazer
vontade de viver
aquilo que não te dão
para isso tenta a China
o Laos o Alaska a Índia
a Tailândia e o Japão
o Barhein!
e rumas na paisagem dominado pela cor
três trapos p´rá viagem
um cesto um cobertor
impostos declarados
a alma decretada
passaporte conforme
e um pão
e gritas ao silêncio
e vai saber-te bem
gritar sob os comboios nas pontes quando passam
ficaram tantos tipos
olhando pela janela a sua própria vida
tu não!...
lá longe no deserto
relembras o teu sítio
tão longe na distância
no peito ali tão perto
e vem-te à boca o travo
dessa questão eterna
do ir ou do voltar
e tu..."
Pedto Barroso
"Nascemos no alto mar no meio da tempestade
ali a meio caminho
´tre o cabo das Tormentas
e o céu do Paraíso
a alma mareante
o fogo de San Telmo
o luto o desespero
pel´alegria breve
de navegar um instante
um século, uma História
enquanto fabricámos
no ventre do porão
paixão
depois, cuidadosamente
encheram-te a cabeça
de histórias de aventura
de batalhas de Ourique
Reis mouros esmagados
de heroísmos vários
de feitos de bravura
de mundos viajados
poemas inflamados
a Grei, Prestes João
o mapa cor de rosa
a virgem aparecida
el-rei D. Sebastião
um Império Mundial
caramba!
às vezes perguntámos
parando por momentos
num vendaval de Santos conquistas embaixadas
com coches de ouro ao Papa
marfim e arrecadas
e a gente sempre a olhar
a olhar
sentíamos mar nas veias
e febres de partir
encantos de Medeias
tentações de fugir
mas ficámos amarrados
ao Convento de Mafra
chorando o desencanto
de ficar que o forte forte vento
não nos deixava enfim
nem estradas de sair
nem estradas de chegar
nem traços de partir
nem posses de alcançar
p´ra dentro do Futuro
adiante
e tinhas razão que o certo certo mesmo
podia ser aquilo, podia ser o vento
podia ser a História, qua há tantas tantas formas
de a gente dar memória
e às vezes o silêncio ´té dizem que é dourado
mas um Homem fica parvo
com a força do Futuro contida no Passado
e devotadamente, Aljubarrotamente
crê!
e conformado crendo
que as nossas aventuras
só foram pela canela pimenta e especiarias
e só fomos heróis em terras e lonjuras
por querermos espalhar a Fé e as teorias
que nunca violámos
que nunca escravizámos
nem traço de chicote nem outras judiarias
nem alma de ladrão morrida nas galés
e ao mar!
de 30 em 30 anos
às vezes mais - 50!
até acreditamos
rumamos à tormenta
batemo-nos e vamos
p´rá liça do Futuro
com a nossa força grande
antiga
mas contados p´los dedos
assuntos bem saldados
ficaram intenções
castelos abandonados
crianças sem saber
o sol pr´os reformados
remessas de emigrantes
e o mar que eles voltam voltam sempre
cinzentos sorridentes
cheirosos influentes
de todos os quadrantes
e por todas as frentes
com cupidez te amansam
com polimento avançam
e zás...
Nas grutas de uma vida
um homem muda tanto
e de criança a velho
e de truão a santo
o salto é tão pequeno
o trilho é tão estreito
tantos pavores na fronte
tantos calores no peito
tanto ouro na corrida
e a força da razão e a força da subida
mãos quentes de bater
mãos magras de sangrarem
e quanto mais procuras ou mais te procurarem
- caíste!...
tentas saber como é
e tentas aprender
aprendes a sorrir
aprendes a esconder
aprendes a vender
aprendes a comprar
aprendes ´té a amar
assim assim, se tanto,
desconfiadamente
a engolir o pranto
a não te olhares de frente
enquanto sonhas longe
ai tão longe daqui e tão
diferente
e embarcas pelo deserto
resolves-te a partir
juntando três amigos
sem jeito ao despedir
duas frases erradas
- Não era nada disto
que eu vos queria dizer
e vais e é natural que sintas
vontade de o fazer
vontade de viver
aquilo que não te dão
para isso tenta a China
o Laos o Alaska a Índia
a Tailândia e o Japão
o Barhein!
e rumas na paisagem dominado pela cor
três trapos p´rá viagem
um cesto um cobertor
impostos declarados
a alma decretada
passaporte conforme
e um pão
e gritas ao silêncio
e vai saber-te bem
gritar sob os comboios nas pontes quando passam
ficaram tantos tipos
olhando pela janela a sua própria vida
tu não!...
lá longe no deserto
relembras o teu sítio
tão longe na distância
no peito ali tão perto
e vem-te à boca o travo
dessa questão eterna
do ir ou do voltar
e tu..."
Pedto Barroso
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
A História não se repete, nem se apaga, mas há sempre esperança de recomeço
"Tudo se transforma.
Recomeçar é possível mesmo no último suspiro.
Mas o que aconteceu, aconteceu. E a água
que puseste no teu vinho não pode
mais ser retirada.
O que aconteceu, aconteceu. A água
que puseste no teu vinho não pode
mais ser retirada. Porém
tudo se transforma. E recomeçar
é possível mesmo no último suspiro."
Bertold Brecht
Recomeçar é possível mesmo no último suspiro.
Mas o que aconteceu, aconteceu. E a água
que puseste no teu vinho não pode
mais ser retirada.
O que aconteceu, aconteceu. A água
que puseste no teu vinho não pode
mais ser retirada. Porém
tudo se transforma. E recomeçar
é possível mesmo no último suspiro."
Bertold Brecht
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Se toda a gente quisesse...
Ciranda ao redor do mundo
"Se todas as moças do mundo
Quisessem se dar
A mão ao redor do mar
Poderiam dançar uma ciranda
Se todos os rapazes do mundo
Quisessem ser marinheiros
Sairiam em barcos ligeiros
Pelo mar profundo
Saltando de onda em onda...
Poderiam então
Fazer uma ciranda
Ao redor do mundo
Se toda gente do mundo
Quisesse se dar a mão..."
Paul Fort
"Se todas as moças do mundo
Quisessem se dar
A mão ao redor do mar
Poderiam dançar uma ciranda
Se todos os rapazes do mundo
Quisessem ser marinheiros
Sairiam em barcos ligeiros
Pelo mar profundo
Saltando de onda em onda...
Poderiam então
Fazer uma ciranda
Ao redor do mundo
Se toda gente do mundo
Quisesse se dar a mão..."
Paul Fort
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
E eu ainda nem cheguei à primeira parte...
"Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas."
Luis Fernando Veríssimo
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Canção Excêntrica
"Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço
- do que faço, arrependida."
Cecília Meireles
Não ando propriamente arrependida do que faço...bem, de todos os papeis que sou obrigada a fazer, ando, muito arrependida...não sei...agredida, sem dúvida. E, sem dúvida nenhuma, ando muito saudosa de coisas que não faço. Ah! A culpa disto tudo também é do Professor Agostinho da Siva, que me fez acreditar que caminhávamos para uma sociedade do lazer, em que daríamos mais atenção ao que gostamos de fazer e a nós mesmos. Se calhar a culpa não é dele, porque ele disse muitas outras coisas e é desta que eu me lembro, frequentemente. :-)
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço
- do que faço, arrependida."
Cecília Meireles
Não ando propriamente arrependida do que faço...bem, de todos os papeis que sou obrigada a fazer, ando, muito arrependida...não sei...agredida, sem dúvida. E, sem dúvida nenhuma, ando muito saudosa de coisas que não faço. Ah! A culpa disto tudo também é do Professor Agostinho da Siva, que me fez acreditar que caminhávamos para uma sociedade do lazer, em que daríamos mais atenção ao que gostamos de fazer e a nós mesmos. Se calhar a culpa não é dele, porque ele disse muitas outras coisas e é desta que eu me lembro, frequentemente. :-)
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domingo, 5 de fevereiro de 2012
Turista em Lisboa
Por circuntâncias várias não dispunha do meu poiso habitual para os fins de semana em Lisboa. Como fazer? A fugaz presença dos amigos de além-mar não me deixava alternativa senão este fim de semana para estar na capital. O Inatel de Oeiras costuma ser a solução em casos destes, mas uma pesquisa na Internet levou-me a concluir que, sendo marcado de forma virtual, o alojamento em Lisboa pode ficar bem acessível. Vá de hotel. No centro de Lisboa.
E o gozo de ficar como turista na cidade que conheço desde sempre!
Entre o frio siberiano e a crise achei a cidade meia desertificada, mas esplendorosa, com um azul frio e dourado que parece desafiar a crise, como os anúncios dos cremes anti-rugas parecem desafiar o tempo e a idade...o envelhecimento, a decrepitude, a recusa da esperança.
Lisboa estava uma lição de resistência e altivez.
Do jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, o Tejo apresentava-se insuperável. O almoço na LXFactory enchera-nos o estômago e a alma com a concilição do velho e do novo, da recuperação e da criação, da venda das velharias com as criações de autor.
O fim do segundo dia encontrou o bilhete do expresso numa das bolsas da mala. As despedidas, um "até à próxima, num dos nossos lados do Atlântico". As saudades antecipadas...as costumeiras conversas com o problema das férias ao contrário para fazermos uma viagem juntos. A recordação dos nossos encontros - e são já tantos! Braga, Rio de Janeiro, Mértola, Santos...E sempre Lisboa e sempre São Paulo.
Os elogios a Lisboa marcaram o fim de semana. O esplendor de Lisboa iluminou as nossas amizades e as promessas de próximos encontros.
Regressei com a sensação de ter sido turista em Lisboa, verdadeiramente, pela primeira vez na vida.
E que bem que Lisboa recebe os turistas! Hei-de lá voltar!
E o gozo de ficar como turista na cidade que conheço desde sempre!
Entre o frio siberiano e a crise achei a cidade meia desertificada, mas esplendorosa, com um azul frio e dourado que parece desafiar a crise, como os anúncios dos cremes anti-rugas parecem desafiar o tempo e a idade...o envelhecimento, a decrepitude, a recusa da esperança.
Lisboa estava uma lição de resistência e altivez.
Do jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, o Tejo apresentava-se insuperável. O almoço na LXFactory enchera-nos o estômago e a alma com a concilição do velho e do novo, da recuperação e da criação, da venda das velharias com as criações de autor.
O fim do segundo dia encontrou o bilhete do expresso numa das bolsas da mala. As despedidas, um "até à próxima, num dos nossos lados do Atlântico". As saudades antecipadas...as costumeiras conversas com o problema das férias ao contrário para fazermos uma viagem juntos. A recordação dos nossos encontros - e são já tantos! Braga, Rio de Janeiro, Mértola, Santos...E sempre Lisboa e sempre São Paulo.
Os elogios a Lisboa marcaram o fim de semana. O esplendor de Lisboa iluminou as nossas amizades e as promessas de próximos encontros.
Regressei com a sensação de ter sido turista em Lisboa, verdadeiramente, pela primeira vez na vida.
E que bem que Lisboa recebe os turistas! Hei-de lá voltar!
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sábado, 4 de fevereiro de 2012
O que valorizamos
"Dão-me os parabéns todos os anos no meu aniversário, do qual não tenho culpa nenhuma, mas esquecem-se de valorizar o que faço bem.
(...)
Há os que me perguntam repetidamente quando caso e se esqueceram de me dar os parabéns quando terminei o doutoramento.
Talvez o episódio mais chocante tenha sido aquela amiga a quem comuniquei em voz baixa (entre a discrição e a emoção) que tinha terminado o doutoramento e que suspirou de alívio e, após uma pequena pausa inquiriu de forma afirmativa: Agora já te podes casar?!
(...)
Na realidade nós devíamos ser cumprimentado por aquilo que fazemos, pelos caminhos que escolhemos trilhar, por aquilo em que somos diferentes, não pelo facto de termos aguentado mais um ano sem nos termos suicidado. Bem...por vezes, é notável, de facto...
Talvez sejamos todos aristocratas de coração, mesmo. Tal como a nobreza de sangue saudamos a família e os bens, as heranças que recebemos e que receberíamos de qualquer forma mesmo que nada fizéssemos e obliteramos o valor de cada um, aquilo que fez a burguesia revoltar-se no final do século XVIII, o direito a sermos diferentes pelas nossas qualidades intrínsecas e pelo nosso trabalho: o valor de cada indivíduo. Nascemos todos livres e iguais, mas não nascemos todos com as mesmas capacidades e as mesmas vontades - essas, na minha óptica, é que deviam ser valorizadas: esse é o valor de cada indivíduo. E que na nossa sociedade se esquece tão ostensivamente que se percebe que incomoda.
(...)
O que uns são representa para outros o perigo de mostrar o que outros não são.
(...)
É triste. Passada a revolta e a estupfacção, resta um grande lamento. É lamentável o que valorizamos em sociedade, no século XXI, tal como no séc. XVI e XVIII.
(...)
Chega a parecer, à primeira vista, que tudo tem sido em vão. Os esforços, as lutas, as revoluções, as constituições. Mas é só à primeira vista, claro. Presto aqui homenagem a todos os que lutaram pelo crescimento e pela liberdade, que nos permitem estar aqui hoje, a dizer estas coisas nesta entrevista.
(...)
O que mais temo? Ficar amarga. Afundar-me em amargura.
(...)
O que me faz feliz? Cativar os meus alunos para o estudo da História e para a difícil luta quotidiana de todos os anónimos que fazem avançar isto."
(...)
Há os que me perguntam repetidamente quando caso e se esqueceram de me dar os parabéns quando terminei o doutoramento.
Talvez o episódio mais chocante tenha sido aquela amiga a quem comuniquei em voz baixa (entre a discrição e a emoção) que tinha terminado o doutoramento e que suspirou de alívio e, após uma pequena pausa inquiriu de forma afirmativa: Agora já te podes casar?!
(...)
Na realidade nós devíamos ser cumprimentado por aquilo que fazemos, pelos caminhos que escolhemos trilhar, por aquilo em que somos diferentes, não pelo facto de termos aguentado mais um ano sem nos termos suicidado. Bem...por vezes, é notável, de facto...
Talvez sejamos todos aristocratas de coração, mesmo. Tal como a nobreza de sangue saudamos a família e os bens, as heranças que recebemos e que receberíamos de qualquer forma mesmo que nada fizéssemos e obliteramos o valor de cada um, aquilo que fez a burguesia revoltar-se no final do século XVIII, o direito a sermos diferentes pelas nossas qualidades intrínsecas e pelo nosso trabalho: o valor de cada indivíduo. Nascemos todos livres e iguais, mas não nascemos todos com as mesmas capacidades e as mesmas vontades - essas, na minha óptica, é que deviam ser valorizadas: esse é o valor de cada indivíduo. E que na nossa sociedade se esquece tão ostensivamente que se percebe que incomoda.
(...)
O que uns são representa para outros o perigo de mostrar o que outros não são.
(...)
É triste. Passada a revolta e a estupfacção, resta um grande lamento. É lamentável o que valorizamos em sociedade, no século XXI, tal como no séc. XVI e XVIII.
(...)
Chega a parecer, à primeira vista, que tudo tem sido em vão. Os esforços, as lutas, as revoluções, as constituições. Mas é só à primeira vista, claro. Presto aqui homenagem a todos os que lutaram pelo crescimento e pela liberdade, que nos permitem estar aqui hoje, a dizer estas coisas nesta entrevista.
(...)
O que mais temo? Ficar amarga. Afundar-me em amargura.
(...)
O que me faz feliz? Cativar os meus alunos para o estudo da História e para a difícil luta quotidiana de todos os anónimos que fazem avançar isto."
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Tradições
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Efeméride pessoal
Faz hoje um ano que cumpri um sonho!
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Partículas de Felicidade
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Chove
"Quando chovia depois de muito sol quente, meu pai gostava de ficar na janela da casa velha, lá em Minas, vendo as plantas no quintal, cada uma delas fazendo os gestos que sabia. Os tomateiros, hortelãs e manjericão, exalando seus perfumes. As folhas de couve e espinafre, brincando de juntar gotas d’água, grandes e brilhantes. As árvores e arbustos executando seus passos de dança, balançando as folhas, sob os pingos que caíam…
Ele olhava, sorria, baforava o seu cachimbo e dizia:
Veja como estão agradecidas…”
Rubem Alves
Ele olhava, sorria, baforava o seu cachimbo e dizia:
Veja como estão agradecidas…”
Rubem Alves
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