Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Revista do Ano
É mais ou menos tradição fazer a Revista do Ano que agora finda. Parece-me fastidioso e normalmente nunca é muito animador - acabamos sempre por "desenterrar coisas" que era melhor terem ficado sossegadas.
Procurando manter a tradição e "guardar palavras" que coloriram o meu ano, aqui fica o texto de preparação da viagem à ilha da Madeira que realizei com um grupo de amigos na primeira "ponte" de Dezembro.
O texto é do Rui (a partir de sugestões da colega P.M.) e mostra bem o espírito de boa disposição que marcou todo o périplo:
"Dia 1
Funchal - passeio pela avenida do mar e Marina do Funchal, passeio nos jardins de Sta Catarina, com vista para a casa do ti Alberto, Sé du Funchal, Mercado dos Lavradores (ao Sábado, é o melhor dia), principalmente a lota, subida no teleférico e promenade pelos jardins du mont e descida dans les paniers de verga!
A não perder
Fábrica dos gâteaux de St Antoine
Les caves do Funchal à côté do turismo, o bar "o santinho", (não fui eu que espirrei!) na Marina do Funchal o melhor "clou"(prego) em bolo de caco e Casino do Funchal (pour les pelintres bien entendu!)
Dia 2
Zona piscatória (aquela que está sempre a piscar, será que é a casinha da luz vermelha do sítio?), Pico de Barcelos (será o do galo, mas isso não era do nuerte carago!, ai que estou baralhado), Cabo Girão (ai, não me digas que vamos ver cabos, ferréis e afins...) Ribeira Brava e a Ponta do Sol (que horror, o melhor é ir lá de noiteee, caso contrário nem o factor 100 nos valerááaaa!!!)
Calheta (em minha casa quando eu era pequeno er mais galheta, mas enfm!) com visita aos engenhos da cana de sucre e provas dos bualos de mele e a poncha, descida até ao jardim do mar ( temos de levar o escafandro!) onde se comem gelados caseiros divinais!
Porto Moniz (piscinas naturais), Ribeira da Janela subir até ao Paul da Serra e percorrer o cume da serra apreciando a paysage ou seguir até Sã Vcente e sebir até à Encumeada. Na Encumeada (muito estrãnhe!) descer para a Serra de Água (ela é que disse que era para descer, não fui eu!) e parar (pois convém!) na "tasque" do côté droit para provar la poncha, a melhor e ela diz que não nos assustemos com o aspecto da tasca!
No regresso, parar no Estreito (não de Gibraltar) de Câmara de Lobos (ui que medo!!!) e jantar nos estaurante Sto António, as melhores espetadas, de milho frito e bolo do caco (achas que mandemos a nossa ministra para lá para eles a venderem às fatias? É que a ela à muito que tem falta de caco!!!)
Dia 3 Zona Interior e Zona Norte
Suibir até ao Poiso (deve ser onde os pássaros descansam!), ir ao Pico do Areeiro e apreciar as vistas... (deve por lá haver gaijas boas! Foi ela é que disse que era para apreciar.)
Descer até ao Ribeiro Frio (com um nome destes e tu achas que não vale a pena levar agasalhos!) ver os viveiros das trutas e percurso pedestre, 1 hora a penantes. S. Roque do Faial (o gajo devia ser mesmo mto feio para lhe terem posto este nome). Santana: casinhas tipicas (não sabia que tb se dedicava à construção, pensei que era só à música, até tenho uns Cd's dele, se soubesse que era trolha não tinha gasto érios a comprar os cds!) S. Jorge, Cabanas (miradouro), Arco de S. Jorge (isto soa-me a santos populares e a sardinhada, aviso já que detesto des sardines on carvon and in the late!) Ponta Delgada, S. Vicente atravessar a ilha pelo túnel até à Ribeira brava (Tb com a ponta delgada qualquer beira fica brava, digo eu?!)
Dia 4 Subir à Eira do Serrado, ir a penantes ao Miradouro e apreciar a vista ao fundo do Curral das Freiras (ai que sacrilégio, ir apreciar o cu - ral das ditas!!!) Camacha (se calhar era melhor levar qualquer coisita à senhora! ainda não se deve ter recomposto da viúvez do Camachito! Fumava muito coitadito do sinhori!) Santo da Serra - campo de golfe e paisagens
Machico (deve ver um macho de fraco porte, desses tb eu não tenho medo!)"
A viagem à Madeira pode já funcionar como sugestão para 2009, para aqueles que não conhecem ou que não vão lá há muito tempo, pois a ilha "tá modernaça", cheia de túneis e teleféricos, facilitando a fruição da beleza agreste natural.
Bom Ano de 2009 para aqueles que passarem por aqui!
sábado, 27 de dezembro de 2008
Amália
Faz-nos pensar, no mito, na mulher, na vida, neste Fado português...
Aqui ficam algumas das palavras cantadas e sofridas no filme.
"Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais."
Amália Rodrigues; Alfredo Duarte
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Este Natal
Do outro lado do Atlântico, reavivando a enorme paixão que eu tenho pelo Brasil, a Livraria Cutura - cujo lema é "Ler para ser" - enviou-me as Boas Festas.
Gostei tanto da mensagem que resolvi partilhá-la aqui:
« Antes de aprender a ler, você aprendeu a sonhar
Em 2009, não se esqueça desta lição.
Só assim seus objetivos vão se realizar.
Boas festas!»
Obrigada Livraria Cultura: por se lembrarem de mim; por me lembrarem o Brasil; por me lembrarem do poder do sonho, que frequentemente parece tão esquecido nesta vida que nos impele a correr, sem sabermos para onde.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Felicidade
Eu acho que a Felicidade está sobrevalorizada!
Quem é que ela pensa que é para se escusar à maioria das pessoas que a procura? Que flausina é esta que se esconde e faz negaças a pessoas que se esforçam por uma vida toda? Há mesmo quem ache que já viveu várias vidas em busca dela e…nada?!?
Não me parece bem.
Há todo um culto da Felicidade que banha a sociedade. O problema é que não é uma felicidade qualquer – tem de ser a Felicidade Total e Permanente. O que a torna impossível, um mito ou uma utopia, causa de inúmeras frustrações, depressões, do fim de relações e muitas outras coisas, com fortes hipóteses de terminarem em ões.
Depois há os outros, os que acham que a encontraram e perderam. Seria de pensar que são mais afortunados que os outros…pois, pelo contrário: são uns deprimidos, normalmente culpam-se pela perda da dita e não se atrevem a tentar outra vez, pois crêem que coisa tão rara não pode ser vivida duas vezes.
Há ainda uma terceira categoria: os que se consideram felizes…mas não podem dizer a ninguém, pois a inveja (mau-olhado, olho gordo e outras designações) é atraída por estados de felicidade confessos e…não falha. Zás! Termina com ela, com uma eficácia totalmente inversa à que marcou a busca e encontro da dita cuja. Esses (alegadamente felizes) acordam todos os dias com olheiras provocadas pelos pesadelos terríficos, pelo medo de que o seu segredo seja descoberto e…infalivelmente consumido pela inveja alheia.
Bolas! Isto é muito difícil. Para quê tantas fitas?
E as fitas que se têm feito sobre o assunto? Há para todos os gostos: os que encontram a Felicidade na fortuna material, os que A encontram no amor, os que A perderam, os que A procuram…blá, blá blá…
Lá fui eu à procura da palavra. E sabem que mais? No meu dicionário não parece assim uma coisa tão importante!
É certo que o Dicionário foi barato – embora tenha palavras caras – creio que saiu com uma revista de actualidade, em vários fascículos, talvez por isso a ideia de felicidade não seja muito elaborada. Vejamos:
-“ventura” (foi um gozo associar a ideia de Felicidade ao façanhudo Sr. Ventura, cuja bigodaça faz lembrar uma floresta, com duendes e tudo);
-” bem-estar”;
-” contentamento”;
-” bom resultado”;
-” bom êxito” (eu nem sabia que havia êxito que não fosse bom);
-“dita” (cujo contrário é a desdita);
- e depois a óbvia “qualidade ou estado de quem é feliz”.
Visto assim não parece nada de inacessível: qualquer um já sentiu contentamento ou bem-estar. Assim sendo, o conceito, tornado modesto, parece ao alcance da maioria.
Achei importante escrever isto agora, porque considero que esta época das “Festas” é tramada, pois decreta-se oficialmente como tempo de Felicidade (daquela, que procuramos e nunca poderemos atingir) e nós, os moderadamente felizes, começamos a pôr em dúvida o nosso conceito de “bem-estar”, considerando-o muito menos que a Felicidade.
Aqui ficam, pois, alguns conselhos para ultrapassar melhor este tempo das “Festas”:
- Compre um Dicionário barato, com definições à medida do preço.
-Veja menos filmes e olhe mais à sua volta
-Leia livros baseados em “Casos Reais” – há pouca probabilidade de retratarem a utopia.
-Não estreie sapatos no Dia de Natal nem na Festa de Ano Novo.
- Veja o Telejornal da TVI e observe o que aconteceu à Manuela Moura Guedes em busca da Perfeição (que deve ser amiga íntima da Felicidade). Logo em seguida olhe-se ao espelho.
(A lista pode ser acrescentada, a gosto, conforme os contextos de cada um)
Festas Felizes!
sábado, 20 de dezembro de 2008
Mensagens de Natal
Por estas alturas a RTP passava as mensagens de Natal dos tropas - longos desfiles de rostos semelhantes, com mensagens idênticas.
Como mais nova e mais desocupada desta azáfama do Natal, nos últimos anos da "Guerra Colonial" destacavam-me a tarefa de estar em frente à televisão, com uma lista dos "correspondentes de guerra" da minha irmã mais velha a ver se aparecia algum.
Devem ter sido só dois anos...mas é uma imagem que, para mim, ficou colada ao Natal: aqueles jovens, com ar desamparado, a tentar não "se desmanchar" em frente à câmara, a enviar a estereotipada mensagem de Natal: "Para os meus familiares: Boas Festas, Um Bom Natal e um Ano Novo cheio de «propriedades»". O erro de linguagem deixava de ter graça quando a mensagem terminava em lágrimas.
Eu ficava muito aflita e às vezes chorava com eles, sem saber bem porquê, no meio daquela época festiva, em que se enfeitava a casa e se retribuíam "Boas Festas".
Hoje é Natal outra vez, esta guerra colonial não existe, mas existem muitas outras, com outros títulos, com muitos subterfúgios, mas, certamente com muitas lágrimas e com toda a injustiça que traz uma guerra para os que a sofrem.
Hoje é Natal outra vez e é outra vez tempo de eu me lembrar daqueles jovens, expedidos para "o Ultramar", que sentiam a falta de tudo aquilo que tinham sonhado...
A mensagem terminava também com uma frase estereotipada, às vezes dita num soluço: "Adeus, até ao meu regresso"
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Natalidades
"-É verdade! Este ano passou tão depressa!"
"- Ainda ontem estávamos a ter esta conversa sobre o ano passado...!
" - Hum...Este ano nem me apercebi que o Natal estava a chegar! Parece que chegou mais depressa..."
" - E vamos ficando mais velhos..."
"- Essa é que é essa!..."
E assim se faz uma conversa!...
Bem dizem os outros "Falam, falam, falam, falam..."
domingo, 14 de dezembro de 2008
Hospital
Uns casos correram mais ou menos bem, outros nem por isso.
As conversas evocam normalmente casos que terminaram "em bem", enquanto os olhos revelam que se está a calar os outros, os que terminaram de vez, em desfechos que deixam feridas tão profundas, que às vezes nem se conseguem referir.
Uma pessoa de quem eu gosto desde antes do seu nascimento está agora hospitalizada. E eu, que já fui salva num hospital, estou cheia de medo.
Por isso resolvi voltar à palavra. A uma explicação do conceito que me devolvesse a tranquilidade. O meu dicionário diz que "Hospital é um estabelecimento onde se internam e tratam doentes". É bom, portanto. As pessoas entram doentes e tornam a casa tratadas.
Na enciclopédia até contam a história dos hospitais, da ordem de cavalaria dos Hospitalários (tudo boa gente, devotada ao bem) e tem, bem perto, palavras tão simpáticas como "hospitalidade", "hospitaleiro" e "hospedagem".
Nada a temer, portanto. Os hospitais são assim como as oficinas dos carros: quando estão avariados, internam-se lá e, quando vamos busca-los, estão arranjados. Aí, o único problema costuma ser a despesa.
"Se eu estou mais calma?"
"Nem por isso..."
Paciência Natalícia
Ele, com a experiência vincada nas rugas do rosto, encontrou a resposta num breve olhar para uma quadrícula das prateleiras: - Tenho branco, azul-escuro e verde-azeitona.
Ela:- Ah, essa última não é uma cor: como é que eu sei se a azeitona é das verdes ou das pretas?...
Ele, formado na escola de «o cliente tem sempre razão», respondeu solícito e respeitoso: - É verde-azeitona-verde, porque o verde-azeitona-preta foi dos primeiros a esgotar.
- Hum, deixe-me ver a azul-escura.
Ele hesitou um pouco, mas depois não resistiu (sempre com o mesmo ar composto): - Porque não experimenta antes a branca?É mais simples, parece-me que condiz consigo.
- Acha? - sorriso aberto de quem se sente lisonjeada - A branca, então!"
Natalidade
Eu peguei na menina, pequenina, delicada...um apelo irresistível à ternura, ao instinto (que não considero só maternal) de derramar carinho e mimo numa vida pequenina, a começar...a evocar memórias e sentimentos.
Ela aceitou bem que eu lhe pegasse e afastámo-nos um pouco do resto dos convivas a gozar aquele primeiro contacto: os olhos dela a explorar um rosto desconhecido, a minha cara a gozar o contacto com aquelas mãos pequeninas que não paravam de mexer e que eu queria acreditar que me estavam a "fazer festinhas".
Quando nos habituámos uma à outra eu voltei a ter consciência das conversas na sala. Falava-se então de natalidade. Que em Espanha havia mais apoio à natalidade... que em Portugal era muito difícil sustentar uma família grande... etc, etc.
Olhei de novo para a bébé e apercebi-me então que tinha chegado à tal idade em que, a breve trecho, deixaria de ter a possibilidade de equacionar se me inscreveria ou não como responsável na história da natalidade.
Não deixa de ser curioso, que tenha sido numa festa de Natal, escutando uma conversa sobre natalidade, que eu tenha percebido que estava na-tal-idade.
Sorri e comuniquei baixinho à bébé a minha descoberta. Expliquei-lhe docemente que as palavras são um mundo espectacular para explorar, que ela se iria deliciar um dia a fazer jogos de palavras, ou a aperceber-se do curso delas, que por vezes parecem comboios a deslizar pelos nossos pensamentos, a conduzi-los, a desviá-los, a brincar com eles, a brincar connosco.
A bébé sorriu - naquela forma irresistível que os bébés têm de nos chamar a atenção quando estamos a ser idiotas - e eu acho que ela me entendeu.
Coisas de mulheres!...
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Dia da Mãe
Depois mudou. Não sei porquê. Passou para um domingo de Maio e por isso não tem data certa.
Sempre achei que as pessoas iam esquecer-se, mas não contei com o "merchandising" que lhe está associado e que faz das montras, nessa altura, verdadeiras obrigatoriedades de nos lembrarmos das mães. Qualquer filho da mãe não pode, nesses dias, ignorar a sua condição.
A minha mãe não ia em modernices. Sempre me ensinou a respeitar as tradições. Para ela - para nós - não houve mudança. Assim, eu tinha sempre de pensar, de me lembrar autonomamente, de que neste dia lhe devia fazer ou comprar uma lembrança. Mantínhamos pois o espírito cristão (longe dos vendilhões sem templo) e assinalávamos uma data que assim parecia mais genuína, mais verdadeira, por ser nossa, diferente da de todos os outros.
Por isto tudo, para mim, o dia 8 de Dezembro será sempre o Dia da Mãe. A palavra das três letrinhas.
Aqui fica hoje uma homenagem a todas as mães, sobretudo às que vestem a palavra em maiúsculas.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Salmão
É uma cor de peixe ou um peixe de cor?
Será que há racismo entre os peixes?
Será que os cardumes são uma espécie de gangs aquáticos?
Será que o mundo marinho também está de olhos postos na presidência de Barack Obama?
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Prova de Amor
"- Se só sobrasse um Mon Chéri, o que é que fazias: Comias ou deixávase-o pra mim?"